Você já sentiu dificuldade de sustentar a própria rotina?

De manter até mesmo os hábitos mais básicos — aqueles que, em teoria, deveriam ser simples, mas que na prática parecem pesar mais do que deveriam? Às vezes, levantar, organizar a casa, cuidar do corpo, responder mensagens, cumprir pequenos compromissos… tudo isso se torna um esforço maior do que o esperado. E é nessa hora que percebemos: sustentar uma vida, mesmo a vida que escolhemos, é um trabalho delicado.

SUSTENTAR NÃO É FÁCIL


é permanecer em pé quando a vontade é se recolher, é manter o corpo e o coração alinhados ao que importa — mesmo quando o tempo escorre, o ânimo falha e o mundo parece exigir mais do que se tem para dar. mas, talvez seja justamente ali, no meio da pressa e do cansaço, que o equilíbrio se revela. porque equilíbrio não é ausência de caos — é presença.

presença nas escolhas pequenas, nas pausas possíveis, nos gestos que se repetem todos os dias sem grandes espetáculos. a rotina, tantas vezes vista como algo monótono, é na verdade o alicerce silencioso da nossa vida. é ela quem sustenta quem somos, mesmo quando não percebemos. a rotina é o fio invisível que costura o equilíbrio entre o que queremos e o que precisamos fazer. é o campo onde o tempo ganha profundidade — e onde a constância se transforma em sentido.

 

sustentar-se, então, é exercitar a disciplina com gentileza, é seguir o caminho sem se violentar no processo, é agir com responsabilidade por aquilo que escolhemos viver, ainda que nem sempre seja prazeroso, é compreender que o descanso também faz parte do compromisso, e que não há continuidade sem pausas. nem tudo o que sustenta é leve. há dias em que o corpo cansa, a mente dispersa e o prazer se esconde.

mas é no meio do caos que a presença se prova, porque o que se repete, dia após dia, ganha profundidade e é no gesto constante — por menor que pareça — que o sentido se firma. a maior parte da nossa vida será feita de dias comuns. sem grandes reviravoltas, apenas rotina, trabalho, pessoas e hábitos que se repetem. e é justamente nesses dias simples que a vida acontece de verdade. cuidar da rotina é cuidar de si, é compreender que o extraordinário nasce do ordinário, e que dias bons — mesmo discretos — criam uma vida boa.

talvez, no fim das contas, sustentar-se seja um ato de honestidade. honestidade com o que sentimos, com o que damos conta, com o que desejamos construir — e com o que precisamos abandonar para seguir.
porque crescer não é empilhar tarefas, é depurar.
é escolher menos, mas escolher melhor.
é perceber que a vida não se expande no excesso, mas na coerência.

e é curioso como, quando olhamos de perto, percebemos que o que nos equilibra nem sempre é grandioso:
é o café que fazemos quase no automático,
é a cama que arrumamos para começar o dia,
é o silêncio rápido entre uma tarefa e outra,
é o banho que lava o corpo e devolve o eixo,
é a respiração que volta para o lugar quando tudo parece sair dele.

essas pequenas coisas — tão fáceis de ignorar — são as que nos mantêm.

e quando percebemos isso, a rotina deixa de ser peso e passa a ser encontro.
encontro com o que somos hoje, com o que precisamos agora, com a vida real que pulsa no meio do imperfeito.

talvez seja esse o movimento mais bonito:
aceitar que a vida se escreve no diário dos dias comuns,
e que é justamente essa repetição — aparentemente igual — que nos transforma por dentro.

o extraordinário não está longe, ele está escondido no simples.
e sustentar-se, dia após dia, é o jeito mais silencioso — e mais profundo — de honrar a própria existência.

e você — o que, no seu cotidiano, tem pedido mais presença?
qual parte da sua vida está esperando para ser sustentada com mais gentileza?